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Pais relatam insegurança com barragem perto de escola em Minas Gerais

“Tô com medo que a barragem rompa e eu morra”, “Tenho medo que meu irmão morra e não volte para casa”, “Mãe, você tem coragem de me mandar para uma escola com barragem por perto?”. Essas colocações foram feitas por crianças e relatadas por suas mães nesta segunda-feira (04/07), durante visita da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) à Escola Municipal Padre Xisto, em Brumadinho (Região Metropolitana de Beo Horizonte).

A instituição, que atende a 279 crianças da educação infantil e do ensino fundamental, se localiza no distrito de Piedade do Paraopeba há quase 120 anos e fica a cerca de dois quilômetros da barragem Santa Bárbara, pertencente à empresa Vallourec Mineração.

Por estar dentro da área de autossalvamento da barragem, local em que não há tempo suficiente para uma intervenção dos serviços e agentes de proteção civil em caso de rompimento, pais e mães receberam, há cerca de dois meses, um comunicado da escola de que haveria um treinamento para as crianças e os funcionários para fuga, em caso de alguma intercorrência.

Apesar de laudos indicarem que a barragem está estável, a situação gerou insegurança em pais e alunos. Desde então, diversos responsáveis deixaram de mandar seus filhos para a escola. Eles demandam que a instituição de ensino seja transferida para um local seguro, até que a barragem seja descomissionada, o que, de fato, vai garantir a segurança de toda a comunidade.

“Queremos uma escola segura e não um treinamento que vai ensinar aos nossos filhos o que vão ter que fazer para fugir da lama”, enfatizou Alice Fonseca Silva Souza, que integra a comissão de pais e mães da escola.

Pressão para voltar às aulas

Alice Fonseca relatou que, inicialmente, 42 alunos não estavam frequentando as aulas. Mas que, diante da falta de alternativas e do receio de serem penalizados por não mandarem seus filhos para a escola, a maior parte dos pais já retomou a rotina de levá-los.

Agora, são nove os pais que ainda resistem e houve três casos de transferência de crianças para outras escolas. Alice contou que duas foram para uma escola particular em Brumadinho. “Mas isso é para quem tem condições”, disse. E outra, conforme contou, mudou de cidade para morar com a avó e frequentar outra instituição.

“Não conseguimos vagas para transferir nossos filhos para outras escolas públicas de Brumadinho”, contou Adriana Fonseca Silva, irmã de Alice.

Elas relataram que também não estão tendo acesso aos conteúdos para que os filhos possam estudar em casa, enquanto a situação não se encaminha. E isso já vai para dois meses.

Terezinha Alves contou que se mudou há pouco tempo para o local e não sabia dos riscos, até o comunicado da escola sobre o treinamento.

Ela relatou que, por ter acompanhado as consequências do rompimento da barragem do Córrego do Feijão em Brumadinho, seu filho começou a ficar inseguro na escola e não conseguir se concentrar nas aulas. “Eu só quero ter o meu filho em segurança e poder abraçá-lo todos os dias”, disse emocionada.

Mudança de cidade

A solução encontrada temporariamente por José Geraldo Vitório foi levar seu filho para morar com a avó em Funilândia (Região Central).

Preocupados com os riscos da barragem e com uma possível punição pelo conselho tutelar por não mandarem o filho para a escola, ele e a esposa, que tem depressão, preferiram se privar do contato diário com ele para que tivesse acesso à educação.

Ele relatou que, todo fim de semana, tenta ir para a cidade para encontrá-lo. “Mas não sei até quando terei fôlego e dinheiro para isso”, afirmou.

A diretora da escola, Silvana Silva Maia, enfatizou que o Ministério Público (MP) está acompanhando toda a situação e que laudos apresentados mostram que a barragem está em nível de criticidade zero, o que demonstra que a estrutura está estável. Mesmo assim, ela relatou que demandou que uma sirene seja instalada na escola.

Silvana Maia disse que aguarda estudo da Vallourec sobre a viabilidade de descomissionamento da barragem, de melhorar sua estrutura, de transferir a escola para outro espaço ou de construir uma outra escola. Com as informações levantadas, contou, a Agência Nacional de Mineração vai dar um encaminhamento.

Sobre a possibilidade de transferir os nove alunos para outras escolas, ela explicou que isso abriria uma brecha para que outros estudantes também demandassem a iniciativa e que não seria possível dar esse suporte a todos.

Em relação a uma assistência aos alunos que estão faltosos, respondeu que a questão deve ser analisada pela Secretaria Municipal de Educação.

Questionada sobre o tempo que demora para os rejeitos chegarem à escola numa situação de rompimento, respondeu que os estudos da Vallourec apontam para 22 minutos e que a lama atingiria sete metros, passando pela quadra esportiva, onde há educação física, e chegando como ponto máximo ao auditório da escola. Pelos estudos, os rejeitos não chegariam às salas de aula.

DEPUTADA CONSIDERA GRAVE A SITUAÇÃO 

A deputada Beatriz Cerqueira (PT), que preside a comissão e solicitou a visita, enfatizou que a situação é grave. Ela disse que a comissão vai demandar uma mediação para o problema via Judiciário, vai buscar entendimentos no MP e somar esforços com a comunidade para que a empresa transfira a escola até que haja o descomissionamento da barragem.

No fim da visita, ela propôs que fosse percorrida a rota de fuga, desde a quadra da escola, e contabilizado o tempo até a Igreja do Rosário, que é o ponto de encontro.

O trajeto íngreme contabilizou 3 minutos e 42 segundos. “Não sabemos ao certo a velocidade da lama em caso de rompimento. Só sabemos que, na prática, para se ter o impacto demora menos do que o apontado nos estudos. E esse tempo que gastamos até aqui foi executado por adultos, fora de uma situação de pânico”, ponderou.

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