Rogerio Alkimim (PMN) empregou, até março deste ano, um tio que recebia R$ 14 mil por mês e devolveria até 95% do salário, segundo investigação
Rogerio Alkimim tomou posse na Câmara de BH em janeiro de 2021
Em uma casa simples, com muro sem reboco e portão de ferro localizada no Duquesas II, um bairro periférico de Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, vive Messias Pereira da Silva. Apesar do local humilde, o “tio Messias”, como é conhecido, tinha, até o mês passado, um salário incomum até mesmo para boa parte dos servidores da Câmara Municipal de Belo Horizonte: R$ 14.180 mensais.
Messias também é tio do vereador Rogerio Alkimim (PMN) e estava lotado no gabinete B-313 da Câmara. Desde janeiro de 2021 o local é ocupado pelo parlamentar, eleito para o primeiro mandato com 6.061 votos.
Rogerio é investigado pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) por nepotismo, “rachadinha”, emprego de funcionários fantasma e uso irregular de veículo oficial. Testemunhas do caso, já ouvidas pela PC, disseram à reportagem da Itatiaia que Messias Pereira da Silva era coagido a devolver boa parte dos R$ 14 mil que recebia todo mês. Ao todo, 13 pessoas já foram ouvidas no inquérito.
Messias vive a cerca de 26 km da Câmara Municipal de Belo Horizonte. Para chegar lá precisa tomar dois ônibus e metrô em um trajeto de cerca de 1h30 de duração. Segundo os depoimentos, ele só apareceria na sede da Câmara no primeiro dia útil de cada mês para sacar o valor integral do pagamento. Do total que consta em seu contracheque, ele só ficaria com um valor entre R$ 500 e R$ 1.000, segundo a investigação. O restante seria levado em mãos para a chefe de gabinete de Rogerio Alkimim, Gleice Lacerda, descrita pelas testemunhas como operadora do esquema.
Messias, que foi exonerado em 1º de março, em meio às investigações, não é o único servidor que trabalha para o vereador Rogerio Alkimim que seria coagido a participar do esquema. O vereador é suspeito de chefiar um esquema de desvio de salários. A chamada “rachadinha”, em que os servidores devolvem parte dos seus salários ao vereador, renderia uma quantia entre R$ 55 mil e R$ 70 mil ao parlamentar todos os meses.
“Tem pessoas que nunca aparecem para trabalhar, só aparecem no dia 1º de cada mês e os familiares também. A gente sabe que lá eles acabam lotando pessoas da família, desde a chefe de gabinete até o tio do vereador. E até pessoas que trabalham na ONG porque, se você não trabalha, acaba sendo dispensado”, afirmou uma das testemunhas, que pediu para não ser identificada por medo de represálias.
Raio de Luz
A Organização Não-Governamental citada pela testemunha é a ONG Raio de Luz, criada por Rogerio Alkimim e que hoje é dirigida por seu irmão. Fundada em 2001, a entidade tem unidades nos bairros Minas Caixa e 1º de Maio. Em suas redes sociais, a entidade diz oferecer cursos e serviços como corte de cabelo, culinária, estética, dentre outros.
No ano passado, Alkiminm indicou R$ 634 mil em uma emenda parlamentar para a própria ONG. O valor, no entanto, não chegou a ser endereçado à entidade.
Testemunhas ouvidas pela reportagem também citaram que são coagidas a trabalhar em eventos promovidos pela ONG sob risco de demissão. Um deles é um forró para pessoas idosas realizado todo fim de semana.
“Para mim, ele é um caloteiro. Me fez trabalhar de graça na campanha, falou que ia arrumar minha casa, que ia me dar emprego, mas depois nunca mais eu vi. Não atende telefone, eu vou no gabinete e não encontro ninguém lá. Cansei de ir lá e dei de cara com a porta. Agora, se você for na ONG dele, está cheio. Fica todo mundo lá”, diz uma das testemunhas.
Uso irregular de carro oficial
Outra irregularidade investigada é o uso de veículo oficial da Câmara para atividades políticas do vereador fora de Belo Horizonte. Rogerio Alkimim utilizaria a estrutura do Legislativo municipal não somente para suas atividades políticas na capital mineira, mas para fazer campanha eleitoral em outras cidades do interior do Estado. Rogerio pretende disputar uma vaga para deputado estadual.
Uma multa de um carro oficial utilizado pelo vereador comprovaria a denúncia. O veículo foi multado, em outubro de 2021, em uma avenida da cidade de Ituiutaba, no Triângulo Mineiro, a 696 km de distância da Câmara Municipal de BH.
A reportagem entrou em contato com o gabinete de Rogerio Alkimim para pedir um posicionamento sobre as denúncias levantadas nesta reportagem. O vereador respondeu, por email, que iria “procurar sua assessoria jurídica para apuração dos fatos”. E acrescentou: “Mas já adianto que as informações descritas não condizem com a realidade”.
Fonte: Itatiaia