Motoboy negro agredido com faca no RS é indiciado por agressão

O motoboy Éverton Henrique Goandete da Silva, de 40 anos, está sendo formalmente acusado pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul por lesão corporal leve e desobediência policial, após um incidente que ocorreu no bairro Rio Branco, em Porto Alegre (RS). O episódio envolveu uma agressão com um canivete no pescoço do motoboy, perpetrada pelo aposentado Sérgio Kupstaitis, de 71 anos. As imagens do ocorrido, que se tornaram viral na internet, geraram indignação.

Segundo relatos de testemunhas e vídeos divulgados nas redes sociais, os policiais da Brigada Militar detiveram o motoboy, que havia solicitado a intervenção policial após ser vítima de uma tentativa de homicídio pelo idoso agressor, portador da faca utilizada no crime. Durante a prisão do motoboy, o agressor interagia de maneira tranquila com os policiais.

Sérgio Kupstaitis também enfrentará acusações judiciais, porém, apenas pelo delito de lesão corporal leve. A investigação revelou que os dois envolvidos tinham desavenças desde o ano anterior, caracterizando o episódio como uma agressão mútua. Os resultados da investigação foram apresentados em uma coletiva de imprensa nesta sexta-feira (23), e o caso será encaminhado ao Poder Judiciário para decisão sobre possíveis denúncias contra os envolvidos.

O subchefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, delegado Heraldo Chaves Guerreiro, declarou: “Caso o Ministério Público ou o próprio Poder Judiciário entenda que houve um crime mais grave, o inquérito policial retorna à delegacia para novas diligências. Porém, entendemos que o fato está devidamente elucidado por parte da Polícia Civil.”

A reação ao caso mobilizou diversas autoridades. O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, destacou que o incidente reflete o racismo institucionalizado ainda presente no país, criticando a atuação da Brigada Militar. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, determinou a abertura de uma sindicância, cujo resultado foi concluído nesta sexta-feira.

Quanto à ação da Brigada Militar, a sindicância não identificou indícios de crime militar ou comum por parte dos policiais envolvidos. O corregedor-geral da BM, coronel Vladimir da Rosa, afirmou que não houve agressão física ou verbal por parte dos policiais, conforme depoimentos de 21 testemunhas. A Corregedoria considerou uma “transgressão da disciplina militar” o fato de os policiais não terem acompanhado o agressor até sua residência para trocar de roupa e buscar documentos. Os policiais, no entanto, não foram indiciados, e o caso não será encaminhado à Justiça comum ou Militar.

A Corregedoria notificará os quatro policiais sobre o resultado da sindicância nos próximos oito dias. Após a notificação, eles terão 15 dias para apresentar defesa. Se considerados culpados, poderão cumprir um período de detenção, de acordo com as normas disciplinares. Caso não haja indiciamento pela abordagem policial, os policiais poderão retornar ao trabalho nas ruas, caso seja determinado por seus comandos. Dois deles haviam sido deslocados para funções administrativas durante a sindicância, conforme informou a BM.