O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta quarta-feira (5) o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por anunciar que pretende remover todos os palestinos da Faixa de Gaza e tomar o território para reconstrução após os ataques israelenses decorrentes do conflito com o Hamas, iniciado em 7 de outubro de 2023.
“Os EUA participaram do incentivo de tudo o que Israel fez na Faixa de Gaza. Então, não faz sentido o ex-presidente dos EUA dizer que vai ocupar Gaza. E os palestinos vão para onde? Onde vão viver? É praticamente incompreensível por qualquer ser humano. As pessoas precisam parar de falar aquilo que vem à cabeça e falem o que é razoável”, declarou Lula a rádios mineiras.
Lula defendeu que a região permaneça sob controle palestino e pediu que os EUA deixem “os outros países em paz”. Ele classificou os ataques israelenses como um “genocídio”.
ONU e países árabes condenam proposta de Trump
Na terça-feira (4), o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que o plano de Trump de realocar a população palestina equivaleria a uma “limpeza étnica” e poderia inviabilizar a criação de um Estado palestino.
Trump fez suas declarações durante uma entrevista coletiva na Casa Branca, em Washington, ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. “Os Estados Unidos assumirão o controle da Faixa de Gaza e faremos um bom trabalho nela”, disse Trump. “Seremos os donos dela e responsáveis pelo desmantelamento de todas as perigosas bombas não detonadas e outras armas neste lugar.”
O ex-presidente também mencionou uma “retirada permanente” dos palestinos de Gaza, sugerindo que poderiam estabelecer um Estado em outro local. “Vamos nivelar o lugar e nos livrar dos edifícios destruídos para desenvolver economicamente o território e garantir empregos e moradia ilimitados para as pessoas da área”, afirmou Trump, sem detalhar como pretende viabilizar essa proposta.
A ideia de reassentar os palestinos em outros países, enquanto Gaza ficaria sob controle dos EUA, foi amplamente rechaçada por países do Oriente Médio. Egito e Jordânia recusaram a proposta, alegando impactos socioeconômicos e riscos de instabilidade na região.
Juristas e diplomatas alertaram que a remoção forçada de palestinos configuraria um crime de limpeza étnica, conforme as Convenções de Genebra. Em novembro, a Human Rights Watch já havia denunciado que os deslocamentos forçados de palestinos dentro da Faixa de Gaza, ordenados por Israel, poderiam ser considerados crimes de guerra.
Hamas rejeita proposta e alerta para caos regional
O Hamas, que governa Gaza há quase duas décadas, também repudiou a sugestão de Trump. Sami Abu Zuhri, líder do grupo, afirmou que a proposta representa uma “receita para caos e tensão” na região.
Os chanceleres de Jordânia, Emirados Árabes, Arábia Saudita, Catar e Egito, juntamente com um representante da Autoridade Palestina, enviaram uma carta ao secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, rejeitando a realocação da população palestina.
Netanyahu, por sua vez, elogiou a ideia de Trump, classificando-o como “o melhor amigo que Israel já teve”. Para o premiê israelense, o plano dos EUA pode “mudar a história” e deve ser considerado.
O conflito em Gaza teve início após o ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, que resultou na morte de 1.210 pessoas e no sequestro de 251 reféns, segundo dados oficiais. Em resposta, Israel lançou uma ofensiva aérea e terrestre contra Gaza, deixando pelo menos 47.487 mortos, de acordo com o Ministério da Saúde do governo do Hamas, cujos números são reconhecidos pela ONU como confiáveis.
(Com informações da AFP)