O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, foi morto em Teerã, anunciaram nesta quarta-feira (31/07) a Guarda Revolucionária do Irã e o movimento islamista palestino, que atribuíram o ataque a Israel.
O sepultamento ocorrerá na sexta-feira (02/08) em Doha, após um funeral público na quinta-feira (01/08) em Teerã, onde ele foi assassinado. O Hamas informou que haverá uma cerimônia fúnebre “oficial e pública” em Teerã antes do traslado do corpo a Doha para o enterro na sexta-feira do “mártir líder do movimento”.
Desde outubro de 2023, o Hamas trava uma guerra contra Israel na Faixa de Gaza, território que governa desde 2007, desencadeada por um ataque sem precedentes de seus combatentes contra o sul de Israel.
“O irmão, o líder, o mujahedin Ismail Haniyeh, líder do movimento, morreu em um ataque sionista contra sua residência em Teerã, após comparecer à cerimônia de posse do novo presidente iraniano”, afirmou o Hamas em comunicado.
Exilado entre a Turquia e o Catar, Haniyeh, de 61 anos, viajou para Teerã para assistir à posse do novo presidente do Irã, Masud Pezeshkian, na terça-feira.
“A República Islâmica do Irã defenderá sua integridade territorial, honra, orgulho e dignidade, e fará com que os terroristas invasores lamentem sua ação covarde”, escreveu Pezeshkian na rede social X, chamando Haniyeh de “líder corajoso”.
A Guarda Revolucionária do Irã afirmou que o ataque contra a residência de Haniyeh matou também um de seus seguranças. A origem do ataque ainda está sendo investigada, mas a agência de notícias Fars informou que Haniyeh foi “assassinado por um projétil aéreo”. O Exército israelense não comentou sobre a morte do líder do Hamas.
Repercussões da morte de Haniyeh
Diversos países, incluindo Turquia, China, Rússia e Catar (mediador nas negociações para um cessar-fogo em Gaza), condenaram o assassinato e alertaram para o risco de agravamento e propagação do conflito.
O Ministério das Relações Exteriores do Catar, que abriga a liderança política do Hamas, alertou que o assassinato “pode mergulhar a região no caos e minar as possibilidades de paz”. A diplomacia turca condenou o “assassinato desprezível” e afirmou que o ataque busca ampliar a guerra em Gaza para uma dimensão regional.
Musa Abu Marzuk, membro do gabinete político do Hamas, declarou que o “assassinato do líder Ismail Haniyeh é um ato de covardia e não ficará impune”. Mahmud Abbas, presidente da Autoridade Palestina e em muitos momentos rival do Hamas, pediu que os palestinos permaneçam “unidos, pacientes e firmes contra a ocupação israelense”.
Após o anúncio da morte de Haniyeh, facções palestinas convocaram uma greve geral e protestos “contra o assassinato do grande líder nacional Ismail Haniyeh”, qualificando-o como parte do “terrorismo de Estado sionista e sua guerra de extermínio”.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu aniquilar o Hamas e resgatar todos os reféns sequestrados no ataque de 7 de outubro, que provocou a atual guerra em Gaza. O ataque dos milicianos islamistas matou 1.197 pessoas, a maioria civis, no sul de Israel, e o Hamas sequestrou 251 pessoas. O exército israelense acredita que 111 pessoas ainda estejam em cativeiro em Gaza, incluindo 39 que teriam sido mortas.
A campanha militar de represália de Israel em Gaza matou pelo menos 39.400 pessoas, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas.
Ismail Haniyeh: trajetória
Ismail Haniyeh, filho de uma família que fugiu para Gaza quando o Estado de Israel foi criado, ingressou no Hamas em 1987, durante a primeira Intifada. Ele assumiu a liderança política do grupo em 2017, mas já havia sido primeiro-ministro palestino após a vitória do Hamas nas eleições parlamentares de 2006.
Desde a Revolução Islâmica de 1979, o Irã tem feito do apoio à causa palestina um núcleo fundamental de sua política externa. O país celebrou o ataque de 7 de outubro do Hamas contra Israel, mas negou qualquer envolvimento direto.
O Hamas faz parte do “eixo da resistência”, que inclui grupos alinhados com Teerã, como o Hezbollah libanês e os rebeldes huthis do Iêmen. As hostilidades entre esses movimentos pró-Irã e Israel aumentaram desde o início da guerra em Gaza, com confrontos na fronteira entre o norte de Israel e o Líbano, além de ataques dos huthis contra cidades israelenses.
Na terça-feira, o Exército israelense atacou um reduto do Hezbollah no sul de Beirute e matou um comandante do grupo, atribuindo-o a um ataque ocorrido no fim de semana contra as Colinas de Golã ocupadas por Israel. O Hezbollah confirmou que seu comandante militar, Fuad Shukr, estava no edifício atacado por Israel, mas não mencionou sua morte.