Na madrugada desta quarta-feira (28), fazendeiros armados atacaram indígenas avá guarani que vivem na aldeia Tekoa Yhovy, localizada em Guaíra, Paraná, dentro da Terra Indígena Tekoha Guasu Guavira. O ataque resultou na hospitalização de seis indígenas, sendo que dois deles estão em estado grave. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o ataque foi descrito como um cerco semelhante a uma caçada.
A maioria dos feridos são jovens mulheres. No final da madrugada, um motorista da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) chegou à aldeia para transportar os feridos a um hospital da região.
Os fazendeiros, produtores de soja e milho, iniciaram o ataque por volta das 23h de terça-feira (27) e continuaram atirando durante a madrugada. Relatos do Cimi indicam que os agressores adotaram uma tática semelhante à utilizada na caça de javalis, disparando armas que produzem estilhaços e atingem tudo ao redor.
Jovens avá guarani transmitiram ao vivo a perseguição em uma rede social. O vídeo capturou o som dos disparos, os gritos dos indígenas e, em meio à escuridão, as luzes das caminhonetes e os efeitos dos tiros.
Em nota, o Cimi Regional Sul condenou veementemente os ataques, descrevendo-os como atos de violência cruel e sistemática promovidos pelo agronegócio.
Tensão na Região
Em entrevista à Agência Brasil, o missionário Roberto Liegbott ressaltou que a tensão na região é antiga e que o processo de demarcação do território indígena foi suspenso por decisão judicial, ficando estagnado na etapa de delimitação realizada pela Funai em 2018.
Liegbott também mencionou que a anulação da tese do marco temporal, que dava esperança aos indígenas, não se concretizou devido à articulação do Congresso Nacional. Após a derrubada dos vetos presidenciais à Lei 14.701 em dezembro de 2023, fazendeiros realizaram ataques contra os avá guarani, envolvendo novamente o uso de armas de fogo.
Além disso, lideranças indígenas têm sido criminalizadas sob alegações de invasão de propriedade privada. A Terra Indígena Tekoha Guasu Guavira abrange os municípios de Guaíra, Altônia e Terra Roxa, no Paraná, e inclui áreas dos rios Paraná, Taturi, Ribeirão Tapera e a região da Volta Grande do Piquiri.
Ataque e Repercussão
Liegbott destacou que, por meio do Ministério dos Povos Indígenas, o governo havia conversado com os indígenas e fazendeiros, aparentemente alcançando um acordo de pacificação. No entanto, ele questiona a ação dos fazendeiros, ocorrida justamente no dia em que a Comissão de Conciliação do Supremo Tribunal Federal iniciaria discussões sobre a constitucionalidade do marco temporal.
O Cimi também informou que agentes de segurança parecem atuar em favor dos fazendeiros. Em resposta aos conflitos, a Funai afirmou no mês passado que permanece alerta desde o início e que sua Coordenação Técnica Local (CTL), em Guaíra, conta com o apoio da Força Nacional, do Batalhão de Polícia Militar de Fronteira (BPFron), da Polícia Militar do Paraná e da Polícia Federal (PF).
Há relatos de fazendeiros queimando alimentos, pertences e casas dos avá guarani, além de ameaças com tratores. Uma dificuldade adicional foi a decisão de um juiz da 2ª Vara Federal de Umuarama, que proibiu a Funai de distribuir materiais que poderiam ser utilizados para construir abrigos pelos avá guarani.
Liegbott expressou preocupação com a atuação das forças de segurança, questionando a ausência de ações preventivas e a demora na intervenção durante o ataque.
A Agência Brasil entrou em contato com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, a Secretaria de Segurança Pública do Paraná e a Polícia Federal no estado, e aguarda respostas.