Funcionária contou que o executivo fingia acolher as mulheres que resistiam aos assédios de Guimarães para monitorar se havia o risco de denúncia por parte das servidoras
Uma funcionária da Caixa Econômica Federal acusa o ex-vice-presidente de Negócios de Atacado do banco, Celso Leonardo Barbosa, de ter acobertado abusos cometidos por Pedro Guimarães, que era presidente da instituição até quarta-feira (29), quando pediu demissão em meio a uma onda de denúncias de assédio sexual e moral. Barbosa tomou a mesma decisão pelo mesmo motivo, mas na sexta (1º).
A acusação contra Celso Barbosa foi feita em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, que foi ao ar na noite deste domingo (3). A servidora contou que Barbosa vigiava as mulheres que não cediam aos assédios do então presidente do banco.
A funcionária, que preferiu não ser identificada, disse que mulheres “marcadas” pelo ex-presidente eram subordinadas a Barbosa, que tentava acobertar o caso.
Barbosa era braço direito de Pedro Guimarães
Barbosa era o número 2 Caixa e substituía Guimarães com frequência no comando da instituição, além de ser um aliado próximo do ex-presidente.
Numa reunião, o conselho tentou definir a forma de saída de Barbosa: por destituição imediata ou por um afastamento por prazo determinado, enquanto novas informações eram coletadas. Barbosa preferiu, porém, renunciar ao cargo.
Os relatos das vítimas e de outros funcionários indicam que os episódios eram conhecidos por ao menos parte da diretoria e dos vice-presidentes.
Após a indicação de possível envolvimento de outros integrantes da cúpula da instituição, o conselho de administração do banco decidiu contratar uma auditoria externa para apurar as acusações.
Barbosa ingressou na Caixa em janeiro de 2019 como assessor estratégico da presidência do banco e tornou-se vice-presidente em março de 2020.
A nova presidente da Caixa, Daniella Marques, deseja criar um comitê de crise para apurar os episódios narrados pelas vítimas e identificar outros possíveis envolvidos.
As acusações de assédio sexual contra Pedro Guimarães foram reveladas na terça-feira (28) pelo portal Metrópoles, que relatou também a existência de uma investigação no Ministério Público Federal.
As mulheres narraram episódios como toques íntimos sem consentimento, convites incompatíveis com o ambiente profissional e outras condutas inapropriadas.
A Caixa informou na semana passada que uma investigação interna sobre assédio foi instaurada em maio e está em andamento, mas corre em sigilo, na corregedoria da instituição.
Bolsonaro segue em silênciao sobre casos de assédio
Além disso, a presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ministra Ana Arraes, determinou a abertura de uma fiscalização na Caixa Econômica Federal para verificar toda a política de prevenção e combate ao assédio sexual no banco.
Até a tarde deste domingo, o presidente Jair Bolsonaro não havia feito qualquer menção sobre o caso, nem mesmo na live semanal, na noite de quinta.