A queda na cobertura vacinal contra coqueluche já está resultando em mortes no Brasil. Após quatro anos sem registros de óbitos, Minas Gerais confirmou recentemente a morte de um bebê de dois meses devido à doença. Este é o segundo óbito por coqueluche no país em 2024, sendo o primeiro no Paraná. O aumento dos casos preocupa as autoridades de saúde, especialmente em um momento em que a vacina, considerada a principal defesa contra a doença respiratória, está em falta em postos de saúde de Minas Gerais. Especialistas alertam que a dificuldade em diagnosticar a doença pode estar ocultando um cenário epidemiológico ainda mais grave.
A morte do bebê, confirmada pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) nesta sexta-feira (30), ocorreu em 19 de julho em Poços de Caldas, no Sul do estado. O último registro de morte por coqueluche em Minas Gerais havia sido em 2019, quando três óbitos foram registrados. Além disso, o número de casos confirmados no estado subiu de 14 em 2023 para 121 nos primeiros meses de 2024. O infectologista Leandro Curi destaca que a coqueluche é uma doença prevenível por vacinação disponível no SUS, e a queda na cobertura vacinal é a principal razão para o aumento dos casos e óbitos.
Em todo o Brasil, foram confirmados 608 casos de coqueluche até 26 de julho de 2024, mais do que o dobro dos 216 diagnosticados em 2023, segundo o Ministério da Saúde. O governo federal reforça a importância de manter as crianças vacinadas conforme o calendário nacional de vacinação e recomenda que gestantes recebam a dose da vacina DTpa após a 20ª semana de gestação.
Em Minas Gerais, a cobertura vacinal está abaixo da meta de 95% da população. A cobertura da vacina pentavalente, que protege contra difteria, tétano, coqueluche, Haemophilus influenzae tipo b e hepatite B, é de 83,50%, enquanto a cobertura da vacina tríplice bacteriana (DTP), que protege contra difteria, tétano e coqueluche, é de 83,73%. O estoque da vacina DTP está indisponível no estado devido à falta de fornecimento pelo Ministério da Saúde, mas o estoque da vacina pentavalente está regular, com 202.283 doses disponíveis.
A coqueluche é uma doença respiratória altamente transmissível, especialmente perigosa para bebês e crianças. A transmissão ocorre por gotículas de saliva, semelhante à COVID-19, e os sintomas podem ser confundidos com outras doenças respiratórias, como pneumonia, dificultando o diagnóstico e contribuindo para a subnotificação dos casos. A vigilância em saúde deve monitorar cuidadosamente os casos confirmados e afastar os doentes do convívio social para evitar a propagação da doença.
O aumento dos casos de coqueluche não é exclusivo do Brasil. Em vários países, especialmente na Europa e na Ásia, a doença tem avançado após um período de baixa atividade durante a pandemia de COVID-19. No Brasil, o último pico epidêmico de coqueluche foi em 2014, com 8.614 casos confirmados. De 2015 a 2019, o número de casos caiu, mas entre 2019 e 2023, todos os estados brasileiros registraram casos da doença.
A coqueluche se manifesta em três fases, com sintomas como tosse intensa, fadiga extrema e, em casos graves, vômitos. O tratamento inclui antibióticos, repouso e isolamento do paciente para evitar a transmissão da doença. A vacinação é a principal forma de prevenção, com doses recomendadas para crianças aos dois, quatro e seis meses de idade, seguidas por reforços. Gestantes também devem ser vacinadas para proteger o bebê.
Embora a vacina contra coqueluche para adultos não esteja disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), exceto para gestantes e trabalhadores da saúde, o imunizante pode ser adquirido em clínicas privadas, com uma duração de proteção de cinco a dez anos.