Após a confirmação de um caso de cólera em Salvador (BA) pelo Ministério da Saúde, a preocupação em relação à doença começa a se disseminar junto com o temor de um possível surto. O diagnóstico dessa doença infectocontagiosa, que afeta o intestino delgado, foi classificado como autóctone, indicando que o paciente contraiu a condição localmente, sem ter viajado para outra região.
No Brasil, os últimos casos autóctones de cólera foram registrados em Pernambuco nos anos de 2004 e 2005, com 21 e cinco casos confirmados, respectivamente. Desde 2006, não houve mais registros desses casos no país, apenas casos importados, incluindo um de Angola notificado no Distrito Federal (2006), um da República Dominicana em São Paulo (2011), um de Moçambique no Rio Grande do Sul (2016) e um da Índia no Rio Grande do Norte (2018).
Em escala global, entre janeiro e março de 2024, 31 países relataram casos ou surtos de cólera. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a região africana foi a mais impactada, com 18 países afetados. Nas Américas, os surtos foram declarados apenas no Haiti e na República Dominicana.
Com a notificação mais recente da doença, surge a preocupação sobre a possibilidade de a cólera voltar a ser uma ocorrência comum no Brasil. O infectologista Cristiano Galvão, do Hospital Vila da Serra, ressalta que, apesar da ausência de casos recentes, a cólera continua sendo uma preocupação devido à precariedade do saneamento básico em algumas regiões, o que aumenta o risco de contaminação e possível disseminação da doença.
Galvão destaca a importância do saneamento básico na prevenção da cólera, já que a doença é transmitida principalmente pela ingestão de alimentos e água contaminados. Ele enfatiza a necessidade de investimento em políticas públicas que garantam água tratada, higienização adequada dos alimentos e das mãos, e boas práticas no preparo dos alimentos.
O especialista alerta para as graves consequências da cólera, que incluem desidratação rápida e necessidade de internação hospitalar devido à diarreia intensa causada pela toxina liberada pela bactéria. Por isso, ele destaca a importância do monitoramento frequente pela Vigilância Sanitária.
O Caso
Na última sexta-feira (19/4), o Ministério da Saúde confirmou um caso autóctone de cólera em Salvador. Segundo a Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, o paciente é um homem de 60 anos que apresentou desconforto abdominal e diarreia aquosa em março de 2024. Exames laboratoriais identificaram a bactéria Vibrio cholerae O1 Ogawa como causadora da doença.
A pasta enfatizou que se trata de um caso isolado, uma vez que não foram identificados outros registros após investigação epidemiológica junto às pessoas que tiveram contato com o paciente.
O período de transmissão da doença é de um a dez dias após a infecção. No entanto, por precaução, as investigações epidemiológicas no Brasil adotam um período de até 20 dias. Segundo o ministério, o paciente não transmite mais o agente etiológico desde 10 de abril.
Sintomas
A maioria das pessoas infectadas com cólera permanece assintomática, enquanto aqueles que desenvolvem a doença geralmente apresentam sintomas leves ou moderados. A forma grave da doença, que pode levar a complicações graves e até mesmo à morte, afeta apenas de 10% a 20% dos casos.
O período de incubação da bactéria varia de algumas horas a cinco dias, sendo mais comum entre dois e três dias. A transmissibilidade perdura enquanto a pessoa elimina a bactéria nas fezes, o que geralmente ocorre até alguns dias após a cura. Por questões de vigilância, adota-se um período de 20 dias como padrão.
Causa
A cólera é causada pela ação de uma toxina liberada por certas cepas da bactéria Vibrio cholerae (sorogrupos O1 e O139). Essa toxina afeta as paredes intestinais, provocando diarreia aquosa, desidratação e perda de fluidos e sais minerais essenciais para o organismo.